sábado, 19 de junho de 2010

cigana das sinas




Neste final de tarde num passeio por Belém e CCB.. com o sol a imperar. Famílias de fim-de-semana felizes, aproveitam o seu dia de descanso. Os miúdos correm pelo verde. Jogam futebol, lançam papagaios ao ar. Os crescidos aproveitam para ensinar o verbo amar. Cheira a traquinice saudável. Um olhar atrái-me, quase que chama por mim. E chama-me - "menina venha cá". Aproximo-me quase que sugada, beijando a calçada quebrada. Um sorriso enorme, deixa vislumbrar um poço sem fundo. Vestida de negro escuro, trajada como os antepassados ditam - num negrume de xaile bordado, um lenço pelos cabelos que lhe rezam a idade pesada e a saia rodada. A velha cigana aproxima-se de mim. Pergunta-me se quer que me leia a sina; não espera pela resposta. Que sina maldita - a minha! Pede permição ao tempo para recuar e lhe vir às memórias os meus tempos vividos. Esforça-se a sentir o que me diz sentir. Apressa-se para me tentar advinhar o futuro. Tenta ser credível - inacreditavelmente. Sobra em mim um silêncio pasmado ao ouvir aquele monólogo conhecido. Onde será que já ouvi isto? Convenço-me que são alucinações. Fixo-me num momento bom, enquanto lhe sinto a pele calejada pela vida a roçar a minha mão. Linha a linha, tanto para dizer, nada onde quisesse acreditar. Coincidências. Não espero respostas. E o tempo que não passa. Fala-me de um amor maldito, de uma felicidade adiada. Doença. Uma viagem inacabada ... de tanta outras coisas malditas. Dá voltas e voltas. Acaba sempre à espera de um sinal de resposta. Um desprendido sim que a motive nesta conversa sem fim. O tempo passa. Pergunta-me: "E a menina é feliz?".
O meu silêncio ampara-lhe o monólogo.

Olho para o céu azul, perco-me nas doces crianças. Papagaios coloridos, um plural de balões esquecidos no ar. Levados para onde a sua sina os traçar.

Encontro-me ao redor no seu olhar azul, impenetrável. Sorrio-lhe meigamente. Pergunto-me a mim mesma porque o faço? Sem resposta, respondo-lhe: "A sina somos nós que a fazemos, o que está traçado é apenas um esboço dela. Sim, tento ser feliz!".

Abandono-a. Sigo em frente. Sinto-me como um daqueles balões largados - sem rumo, sem destino, sem querer saber dele. Assim, sou feliz !

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