sábado, 31 de março de 2012




Nas paredes que encontro leio ditos. Uns interessantes, outros banais, alguns profundos, outros ainda, meros desabafos. A nossa necessidade de expressão é de uma grandeza magnífica, jorra-nos do corpo de forma intensa, impossível de conter. Quanto mais concreta, melhor, daí as letras serem um suporte, ainda que dúbio, das opacidades e clarezas das almas.

( Mesmo no prédio ao lado do meu, leio um amo-te Maria. A Maria pode até saber disso, mas por certo que assim ficou muito mais esclarecida. Concluo pois que sou estranha. Não preciso destas manifestações, chega-me um sussurro, um balbuciar, que se assume com a eternidade possível, ou seja, eternidade alguma.)








A maioria das vezes sem darmos conta, acumulamos pela vida uma carga desnecessária. Aqui e ali vamos somando peso ás horas, aos dias e, quando damos por isso - e darmos por isso é já um excelente indicador de capacidade para interpretar o desconforto que nos assola - são já meses e mesmo anos a ter a vida pessoal em prol do trabalho (ou melhor ainda, não ter vida pessoal). 
Por distração, incapacidade de fazer limpezas cíclicas ou até, estranhamente, por declarada opção, vamos colecionando pequenos nadas, ninharias dos desencontros do dia a dia, lixo relacional. Entre a carga desnecessária que vamos transportando, sobressaem uma boa parte das vezes as pedras que vamos levando no sapato e que, quando não desalojamos rapidamente, acabam por sorrateiramente se infiltrar por muitos lados, até se instalarem no coração. Silêncios mudos de palavras guardadas em momentos de dor e indignação. Pesos excessivamente desnecessários que somos muitas vezes incapazes, por medo, preguiça ou displicência, de aliviar na devida altura.
A distração é uma caracteristica engraçada - em alguns casos confere até algum charme adicional -, mas distraírmo-nos de cuidar dos nossos fardos, além de não ter piada, é, infalivelmente a médio ou longo prazo, um grave risco para a saúde. 
Se a cada dia que te levantas te sentes cada vez mais pesado, alivia a tua carga. Olha para as tuas mãos. Corta as amarras, és tu quem tem a tesoura e tudo. Quando se libertarem do coração e voltarem ao solo, onde pertencem, pega nelas para fazer um novo caminho. A vida é tão breve quanto leve. O peso que tem só depende de ti.

como eu gostava de escrever assim





"O amor é uma verdade. É por isso que a ilusão é necessária. A ilusão é bonita, não faz mal. Que se invente e minta e sonhe o que quiser. O amor é uma coisa, a vida é outra. A realidade pode matar, o amor é mais bonito que a vida. A vida que se lixe. Num momento, num olhar, o coração apanha-se para sempre. Ama-se alguém. Por muito longe, por muito difícil, por muito desesperadamente. O coração guarda o que se nos escapa das mãos. E durante o dia e durante a vida, quando não esta lá quem se ama, não é ela que nos acompanha – é o nosso amor, o amor que se lhe tem. Não é para perceber. É sinal de amor puro não se perceber, amar e não se ter, querer e não guardar a esperança, doer sem ficar magoado, viver sozinho, triste, mas mais acompanhado de quem vive feliz. Não se pode ceder. Não se pode resistir. A vida é uma coisa, o amor é outra. A vida dura a Vida inteira, o amor não. Só um mundo de amor pode durar a vida inteira. E valê-la também.”


Miguel Esteves Cardoso in Expresso

as minhas amigas




Descobri um egoísmo gritante numa amiga minha. Primeiro não o quis ver, entrei em negação. Mas, comecei a reparar em pequenos nadas, coisas que comentava; depois apercebi-me que tinha esse comportamento com algumas pessoas que lhe são próximas e depois vi-o comigo. Afastei-me por uns dias, até para tentar perceber.
A vida amadureceu-me e endureceu-me. A vida fez com que já não dê tanta importância a determinados gestos. O egoísmo dela fez mossa, não vou negar. Na medida em que não o sou, nem nunca o seria com ela. Mas, quando vejo que estou num aperto, olho para o lado e só a vejo a pensar nela, faz-me considerar que a vida, a ela, ainda não ensinou o que ela tem que aprender. E aqui é que eu percebo a sua imaturidade.
O período da mossa e da tristeza passou. A atitude dela não me fez deixar de ser sua amiga, a atitude dela, fez com que eu não esqueça de ligar a todas as outras amigas. Mas, a uma em especial: a que está numa encruzilhada da vida e que eu tenho obrigação de ajudar e vou fazê-lo.
A vida ensinou-me que o que os outros fazem de mal, podes transformar em bem e pode ser um sinal para não te tornares em pessoas como eles. Eu nunca vou querer ser egoísta, e quando o for, por favor acordem-me com dois pares de estalos.

Ó Mulher! 
Como és fraca e como és forte!
Como sabes ser doce e desgraçada!

Como sabes fingir quando em teu peito
A tua alma se estorce amargurada!

Quantas morrem saudosa duma imagem.
Adorada que amaram doidamente!

Quantas e quantas almas endoidecem,
enquanto a boca rir alegremente!

Quanta paixão e amor às vezes têm,
sem nunca o confessarem a ninguém
doce alma de dor e sofrimento!

Paixão que faria a felicidade.
Dum rei; amor de sonho e de saudade,
que se esvai e que foge num lamento!


A Mulher (Florbela Espanca)



Bom dia, bom dia! ☼





sexta-feira, 30 de março de 2012

Apercebo-me que ainda não plantei uma árvore, ainda não escrevi um livro e nem tive um filho. 
Diz o ditado que ninguém estará completamente realizado se não cumprir os 3 requisitos acima referidos. Nunca plantei uma árvore, mas já plantei flores, plantas e ervas aromáticas... 
Nunca escrevi um livro, mas escrevo neste blogue... e já debitei para aqui tanto drama, humor e aventura, que se isto não dá para um livro, dará concerteza para um filme. 
Também ainda não tive filhos, mas tenho um cão lindo que me treina para um futuro de muitos afazeres como mãe. 
 Por isso, e se a saúde e a vida me permitirem, ainda tenho pelo menos outra metade igual de tempo, para realizar estes 3 requisitos e por fim atingir o Nirvana terreno. E não páro de pensar que já entrei nos "intas"... e por mais anos que passem, há coisas que nunca mudam, nem nunca mudarão. :] 

listen this 

:D


domingo, 25 de março de 2012


... e no meio da agenda preenchida, das horas a mais atrás da secretária ou do volante, das noites a adormecer de luz acesa, num hotel no meio do nada, ou em casa mas com os livros ou o pc no colo, não encontro um espaço para ti blog. é uma pura traição, eu sei, mas vou tentar te compensar brevemente...

domingo, 11 de março de 2012



* tem dias que a vida é um acto de coragem

Lembro-me de aprender descartes na escola e de muito discutir a existência de deus. Existe porque temos a ideia da perfeição e essa ideia só pode vir de deus.
A minha avó nunca estudou filosofia e diz que ele existe porque temos que vir de algum lado e que somos a sua criação perfeita.
Descartes defende a autoridade da razão e ainda que argumentasse contra deus, desta ideia sempre gostei.
Tinha quinze ou dezasseis anos.
Depois aprendi outras coisas noutra escola. Ensinaram-me onde ficam a razão e a emoção dentro de nós. Ensinaram-me a vê-las funcionar, a saber o que pensa alguém quando olho para uma fotografia do cérebro e para mim perfeição era este equilíbrio entre razão e emoção.
Tinha dezanove ou vinte anos.
Agora tenho trinta e a vida ensinou-me como este equilíbrio de facto funciona e que estamos sempre a aprender.
A razão vem e argumenta, lista os prós e contras, pesa-os, avalia-os, diz-nos que não, que não é prudente, que não devemos, que não podemos, que sabemos claramente o resultado, que nos vamos magoar e arrastar outros no caminho, que não podemos querer tudo, querer tanto, que temos que ser coerentes com as nossas escolhas ou elas nada representam, que estamos felizes, que não somos assim, que somos crescidos e por isso não. Muitas vezes não.
O coração vem e diz mas eu quero!. E pronto.
Se deus existe e somos a sua criação perfeita, o seu sentido de humor é fodido.

domingo, 4 de março de 2012

every second of this video clip is about me ...

Dos dias insuspeitos*







Todos temos o dia em que damos connosco a pensar. Normalmente é o dia em que sentimos, finalmente, o sol. O dia insuspeito em que outra coisa qualquer nos faz sorrir. Nos arrepia a pele. Nos dá outra vez a esperança de que vale a pena. E nem sabemos, às vezes, porque é que esse dia é diferente. Talvez seja por nos conseguirmos ver ao espelho com todas as cicatrizes de mágoas que passaram sem quebrar. Talvez porque fomos tocados por qualquer coisa, por outro alguém. Talvez, simplesmente, porque lá admitimos que o que foi não volta a ser e fazemos as pazes com isso. Ou porque o Tempo sabe mais que nós. Enfim. Seja o que for. O inegável é que a vida continua. E, mesmo que nos apanhe de surpresa, esse dia acaba por chegar. Sem qualquer sombra de dúvida. 
 * para todos os corações que têm coragem de começar de novo.

sábado, 3 de março de 2012

Os fantasmas são como as cartas de amor...


Quem os não tem?


Os fantasmas...são isso mesmo...fantasmas! Não existem realmente, mas estão sempre lá...por vezes adormecidos, recalcados, escondidos, mas sempre lá. Quando menos esperamos...pás!...lá estão eles a atormentar-nos os neurónios e o coração outra vez... E temos que conviver com eles, eles fazem parte de nós. Carregam medos, lembranças, pontas soltas que queremos enterrar bem lá no fundo, e que muitas vezes não conseguimos. E dávamos tudo por uma limpeza de memória eficaz que nos esfregasse a alma com uma escova de aço, que a deixasse imaculada, sem manchas, marcas, riscos, mazelas ou...fantasmas. Fantasmas que mostram que somos frágeis, que a felicidade plena e infinita é falível, e que toda a gente (sem excepção) tem telhados de vidro com um ou outro fantasma pendurado. E eles persistem em voltar...e quanto mais tempo se ausentam, mais fortes se tornam quando voltam... Chegam e dizem "Olá! voltei!como tens passado!?", e entram de rompante sem pedir licença, não limpam os pés....vêm de malas e bagagens, acomodam-se em cada neurónio, em cada espacinho do coração... Ainda tentamos argumentar: "Não está ninguém em casa... emigrei prá Cochinchina, vou por tempo indeterminado e não precisa de deixar recado,sim? "Mas eles não caiem nessa, entram, sujam, desarrumam e enxovalham tudo cá dentro. Não nos dizem quando vão embora. No dia a seguir, acordamos e tentamos medir a intensidade da sua presença.... Será que ainda cá estão? E rezamos, para que se estiverem, ao menos que estejam menos presentes que ontem...e no dia a seguir que estejam de partida. Para sempre! Mas somos seres humanos, e precisamos de ser felizes, custe o que custar...e pensamos que se afogarmos aquele fantasma vamos poder navegar mais longe, e que cada caminho que escolhemos, pensamos que é a coisa certa a fazer... E o que seríamos nós sem fantasmas? Seres desprovidos de dúvidas existenciais? Mas não fará isso parte da natureza humana? Enfrentar obstáculos e lutar por um arquétipo de vida? Corrigindo o que disse no início, os fantasmas existem sim, mas só nós é que os vemos, lá naquele cofrezinho secreto que insitimos em trancar, mas que os guardiões da chave, insistem em libertar. Assim de vez em quando, só naquela...só para ver se ainda temos força para aguentar mais uma investida...

Porque nós sabemos que não há escovas de aço para alma...







Nobody said it was easy!

Sem falinhas mansas...




As campanhas de sensibilização não funcionam à base de "papoilas e borboletas" num mundo cor-de-rosa. Não funcionam. Ponto.
As campanhas de sensibilização devem mostrar as consequências de não se usar o preservativo, ou o cinto de segurança, não fazer a apalpação da mama, não verificar os sinais da pele...Devem mostrar dor, devem chocar, ferir, abanar... só assim não adormecemos sobre a ideia que a desgraça não é inevitável e só acontece aos outros. A verdade e a conseguência devem ser cruas.... bem desfiadas... a roçar a iminência da morte e sofrimento.Esta campanha é assim. Crua, dura e eficaz. Para ferir, furar e 'achincalhar'. Só assim é que resulta.

Assédio Rodoviário



Anda por aí uma espécie nas estradas deste nosso Portugal, que me faz espécie.
Uma espécie masculina a transbordar de testosterona desesperada que quando vê uma mulher a conduzir um carro, "persegue-a" como se daí tirasse algum prazer (e penso que tiram).
Ora o processo começa, quando ultrapasso um carro e percebo rapidamente que  esse carro que ia a "engonhar" me ultrapassa.
Penso... Ok. Não há-de ser nada. 'Tás a 'filmar' outra vez. Não 'paniques'.

Depois começa a "engonhar" outra vez, pelo que me vejo obrigada a ultrapassar, uma vez que tenho mais que fazer do que andar a perseguir pessoas na auto-estrada.
Pois que ao ultrapassar, uso a minha visão periférica do canto do olho, e imediatamente percebo que ali ao volante do carro alheio, segue um bicho colado ao vidro embaciado a fazer olhinhos e beicinho nojentos. (quando esta espécie anda aos pares, pois que a gravidade da situação sobe de nível, dado que estamos perante a taradice pura ao quadrado).
Recomponho-me e sigo caminho. Eu não vi nada. Eu não vi nada.
Mas muitas vezes a história repete-se vezes e vezes sem fim. E eles ultrapassam, e fazem piscas, apitam, accionam o pára-brisas a esbanjar água...pfffff não há pachorra para estes energúmenos, que me põem a tremer das pernas e a espumar da boca.
É nestas alturas que percebo que afinal os tunnings são totalmente inofensivos.
Esta espécie pode-se manifestar em bichos de várias classe sociais, nos mais diversos veículos.


Algumas vezes optei por parar em bombas de gasolina, coisa que felizmente nenhum destes bichos do alcatrão se atreveu a fazê-lo.
E eu pergunto: Porquê Senhor, porque é que esta espécie existe mesmo?

O assédio rodoviário devia dar multa... 

a.d.o.r.o.


Para ouvir Bon Iver, clicar

dance is the best cure...