segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Bali .. pelos meus olhos



I Am Bali


Nunca na vida tive um plano menos definido do que ao chegar a Bali.

Em toda a minha história de viagens mal programadas, esta é a que ocupa o primeiro lugar. Não sei onde ia dormir, não sei bem o que ia fazer, nem sei qual a taxa de câmbio.Mas Bali é um lugar muito simples para nos movimentarmos. Não é como se tivesse aterrado no meio do Sudão sem ideia do que fazer a seguir. É uma ilha pequena e é um destino turístico muito popular. Todo o lugar foi preparado para ajudar o ocidental com cartões de crédito a movimentar-se facilmente. Quase toda a gente fala inglês ou entende., o que me deixa aliviada. Ter estado lá não me custou mesmo nada.

Dei entrada em hotéis pequenos e engraçados. Os balineses são conhecidos pela sua amabilidade. Começam automaticamente a adorar-nos e a cumprimentar-nos pela nossa beleza assim que transpomos a porta de entrada.

O centro da ilha onde estive, Ubud, localizada nas montanhas rodeada por campos de arroz em socalcos e inúmeros templos hindus, com rios que correm rápidos por desfiladeiros profundos e arborizados e vulcões visíveis no horizonte. É considerado o centro cultural da ilha, o lugar onde floresce a pintura, dança, escultura, e cerimonias religiosas tradicionais. Há sempre macacos a andar livremente por ali e famílias balinesas envergando os trajes tradicionais por todo o lado.

Em Bali, há apenas quatro nomes que a maioria da população dá aos seus filhos, independentemente do bebé ser rapaz ou rapariga. Os nomes são Wayan, Made, Nyoman e Ketut. Traduzidos, estes nomes significam simplesmente primeiro, segundo, terceiro e quarto, e estão conotados com a ordem do nascimento. Se tiverem um quinto filho, inicia-se novamente o ciclo de nomes, por isso o quinto filho passa a ser conhecido por algo como Wayan segundo. Isto dá uma ligeira indicação da importância que a família tem em Bali, e da posição que se ocupa nessa família. Seria de esperar que este sistema pudesse tornar-se complicado, mas de alguma forma os balineses conseguem geri-lo. Compreensível e necessário, o uso de alcunhas é muito popular.

Todos eles andam de sarong. Todos os rostos são uma enorme enciclopédia de bondade, que nos apertam as mãos com força e sentimento assim que nos veêm. Bocas desflorestadas cheias de danos, mas mesmo assim com um sorriso lindo.

Quando estava em Ubud, o recepcionista Mr Gous (Gous de alcunha), saiu por detrás da secretaria e quis conversar comigo:

- Vem, senta-te, fala.

Eu fui, sentei-me e falámos. E foi assim que nos tornámos amigos.

Falou-me de Bali ... Bali é uma minúscula ilha localizada no meio do arquipélogo indonésio com três mil quilómetros de comprimento que constitui a nação mais muçulmana mais populosa do mundo. O hinduísmo da ilha foi exportado da Índia através de Java. Os javaneses de classe alta trouxeram para Bali apenas as famílias reais, os artesãos e os sacerdotes, portanto não é exagero quando toda a gente em Balia forma ser descendente de um rei, sacerdote ou artista, e é por isso que os balineses têm tanto orgulho em sê-lo.

A cultura balinesa é um dos sistemas mais metódicos de organização social e religiosa do mundo inteiro, cheio de tarefas, papéis e cerimónias. Bali partilha de rituais do hinduísmo tradicional e uma sociedade agrícola produtora de arroz que opera, por necessidade. O arroz cultivado requer uma quantidade inacreditável de trabalho partilhado. Em Bali, o colectivo é absolutamente mais importante do que o individual, caso contrario ninguém comeria.

As cerimónias religiosas são de grande importância em Bali (ilha com sete vulcões imprevisíveis, qualquer pessoa rezaria J). Estima-se que uma mulher balinesa típica passe um terço do seu tempo a preparar-se, a participar e a limpar-se vinda de uma cerimónia. A vida aqui é um ciclo constante de oferendas (cestos de palha colocados à porta de cada casa, estabelecimento cormercial, ou seja, um para cada hindu) e rituais. Têm de o fazer de forma correcta e com a intenção correcta, caso contrario dizem que todo o universo ficará desequilibrado.

Todas as crianças balinesas passam por uma cerimónia da puberdade em que os dentes caninos ou incisivos são limados até ficarem planos para melhorar a estética. Em Bali, a pior coisa que se pode ser é grosseiro ou animal e aqueles incisivos são considerados lembranças das nossas naturezas mais brutais e, por conseguinte, devem desaparecer. Numa cultura assim, é perigoso as pessoas serem brutais.

Os balineses não deixam os filhos tocar no chão nos primeiros seis meses de vida porque os recém-nascidos são considerados deuses enviados do céu e não seria próprio deixar um deus rastejar no chão juntamente com os restos de unhas cortadas e pontas de cigarros. Por isso. Os bebés balineses são carregados durante os primeiros seis meses, venerados como divindades menores. Se um bebé morrer antes dos seis meses, recebe uma cerimónia de cremação especial e as cinzas não são colocadas num cemitério humano porque aquele ser nunca foi humano, apenas um deus. Mas se o bebé viver até aos seis meses, então realiza-se uma grande cerimonia e os pés da criança têm permissão para tocar finalmente na terra e o pequeno é acolhido na raça humana.

Dado tudo isto, não tenho bem a certeza de quanto da visão balinesa vou conseguir integrar na minha própria visão do mundo, já que neste momento pareço ter uma definição mais moderna e ocidental da palavra equilíbrio (traduzo-a como liberdade igual ou a possibilidade igual de cair em qualquer direcção em determinado momento dependendo de como correm as coisas). Os balineses não esperam para ver como correm as coisas. Eles organizam a forma como correm as coisas. De forma a impedir que se desmoronem.

Quando andava pela rua e passava por um estranho, a primeira coisa que ele ou ela fazia era perguntar “aonde é que vai?” , e a segunda “de onde vem?”. Para um ocidental, isto poderá parecer um questionário algo invasivo vindo da parte de um perfeito estranho, mas estão apenas a tentar obter uma orientação sobre a nossa pessoa, para fins de segurança e conforto. A terceira pergunta que um balines certamente seria“é casada?”. Trata-se de uma pergunta de posicionamento e orientação. Têm necessidade de saber isso para se certificarem de que está tudo em ordem na nossa vida. Pelo que soube, se formos uma mulher solteira em viagem Bali e alguém nos perguntar se somos casadas, a melhor resposta possível é :”ainda não”!

O porquê desta viagem?

Ainda em Portugal tinha-me finalmente apercebido de que chegara a um estado de desespero capaz de ameaçar a minha integridade física por não estar a conseguir superar uma doença, e ocorreu-me que às vezes as pessoas nesse estado pedem ajuda a Deus. Por vezes na vida, subimos ao topo de algumas coisas, mas por vezes nadamos até ao fundo de outras. Ia praticando a arte de viver sozinha, por mais difícil que fosse mas toda esta experiência não estava a ser favorável para uma tão súbita mudança de vida. O facto de hoje conseguir escrever calmamente sobre isto é prova de que o tempo tudo cura, pois na altura não consegui aceitar tão bem as coisas.

O porquê Bali?

Porque me atraía a ideia de viver durante alguns dias numa cultura em que o prazer e a beleza eram venerados. Queria aquilo a que se chama o equilíbrio do bom e do belo. Ambos me tinham escapado nos últimos anos porque tanto o prazer como a devoção precisam de um espaço livre de tensões para florescerem, e eu vivia num gigantesco compressor de ansiedade. Quanto à forma de equilibrar a necessidade do prazer com o desejo de devoção...bem certamente haveria uma maneira de aprender esse truque . E pela minha curta estadia em Bali, parecia-me que talvez o pudesse aprender com os seus nativos. Não tanto porque quisesse explorar minuciosamente esse pais, o que já fora feito por muitas pessoas, mas porque queria explorar minuciosamente um aspecto de mim mesma.

Assim que cheguei, subi as escadas para o meu quarto, deitei-me na minha cama nova e apaguei a luz. Esperei que chegassem as lágrimas ou as preocupações, já que normalmente era isso que me acontecia quando as luzes se apagavam, mas na verdade senti-me bem. Senti os primeiros sintomas de contentamento.

O meu grande sentido de orientação e o grande conhecimento geográfico significam que já explorei muitos países. Estabilizei uma muito fidedigna bússola interna, com a calma que tenho sempre consegui manter a expressão competente que é tão útil quando viajamos para lugares distantes e diferentes. Aquela expressão super-relaxada, de quem tem tudo sob controlo, e que dá a ideia de pertencer ali, em qualquer lugar, em todos os lugares, mesmo no meio de uma cidade agitada como Denpasar.

Viajar é a grande paixão da minha vida. Senti que viajar valia qualquer sacrifício. Sou leal e constante nessa minha paixão por viajar, embora nem sempre tenha sido leal e constante nas minhas outras paixões.

Não fico completamente indefesa quando ando pelo mundo fora. Tenho o meu próprio conjunto de técnicas de sobrevivência. Sou paciente. Sei viajar com pouca coisa. Como sem receios. Mas o meu verdadeiro trunfo ao viajar é conseguir fazer amizade com qualquer pessoa. Se não houvesse mais ninguém com quem falar, provavelmente conseguiria tornar-me amiga de um poste. É por isso que não tenho medo de viajar para os lugares mais remotos do mundo, desde que lá haja seres humanos. Não posso dizer que tudo foi belo, tive muitos momentos difíceis e que lembro-me numa noite em particular, sentir um estranho gesto de amizade interior, a mão que dei a mim mesma quando mais ninguém estava lá para me dar consolo. Disse para mim mesma, estou aqui e amo-te! Adormeci segurando o moleskine contra o peito...

Em Bali palavras sábias disseram-me que para encontrar o equilibro que procuro, preciso de manter os pés agarrados tão firmemente à terra como se tivesse quatro pernas em vez de duas, que tenho de olhar para o mundo não através da cabeça mas sim através do coração. Dizem que me preocupo demasiado. Que deixo-me levar pela emoção e pelos nervos. Disseram-me também que estava no sítio certo para procurar o equilíbrio! E foi isso que fiz...

Tudo se tornou delicioso. Tudo o que tinha de fazer era perguntar a mim mesma todos os dias, “ o que gostarias de fazer?” “o que te daria de prazer neste momento?” Para mim foi importante descobrir o que não queria fazer em Bali quando finalmente aceitei desfrutar os prazeres que ali se ofereciam. São tantas as manifestações de prazer em Bali que eu não tinha tempo para as experimentar a todas. Acabamos por ter de eleger um prazer principal, caso contrário ficamos confundidos.

E foi daí que a felicidade começou a invadir todas as minha moléculas.

Tentei de tudo, até meditação.

Na minha vida , já fiquei acordada toda a noite para fazer muitas coisas: amor, discutir com alguém, conduzir longas distancias, dançar, chorar, preocupar-me, mas nunca tinha sacrificado o sono de uma noite inteira para ficar a meditar. Porque não agora? Honestamente acho que não sou boa nisso. Com a mente tão desassossegada, turbulenta e forte torna-se difícil de ser dominada. No entanto tentei, quis tentar a via do ioga. Como a maioria dos humanóides, tenho o fardo a que os budistas em Ubud chamam mente de macaco, os pensamentos que passam de ramo em ramo, parando apenas para se coçar, cuspir e gritar. A minha mente oscila entre o passado distante e o futuro incognoscível, aflorando dezenas de ideias por minuto, indisciplinada. Isto em si mesmo não é necessariamente um problema, o problema é a ligação emocional que acompanha o pensamento. As nossas emoções são escravas dos nossos pensamentos e nós somos escravos das nossas emoções. O outro problema com todo este balouçar por entre os ramos do pensamento é que nunca estamos onde estamos. Estamos sempre a remexer o passado ou a espiar o futuro, mas raramente descansamos no presente. O professor Nyoman dizia para eu me concentrar, conseguir encher o corpo inteiro de uma luz eléctrica eufórica que ele tanto chamava de taksu .. não posso dizer que não tentei ..

Mas foi neste lugar que encontrei a resposta. Podemos ser nós próprios a acabar com isso a partir de dentro de nós. Não só é possível, é essencial.

A sugestão de Nyoman é que para meditar, basta sorrir. Sorrir com o rosto, sorrir com a mente, e a boa energia vem ter connosco para limpar a má energia. Sorrir até com o fígado. Pratica hoje á noite no hotel, dizia-me ele. Não há pressa e não tentes demasiado.

Nyoman convidou-me para jantar e eu aceitei, falámos de tudo um pouco, inclusivé de alguns assuntos pessoais meus que me senti à vontade de abordar com ele. Ouviu-me serenamente, e depois disse que ainda iria sofrer muito, mas a única coisa que teria de fazer seria de conseguir centrar em mim mesma para que conseguisse ter força para lutar, de construir as minha defesas e despertar a minha consciência. A maior parte da humanidade tem os olhos tão cheios de poeira da desilusão que nunca veriam a verdade, por mais ajudas que tivessem.

Prometi a mim mesma não albergar pensamentos mórbidos. Nesta mesma viagem ensinaram-me que o porto da minha mente é uma baía aberta, o único acesso à ilha do meu eu. Esta ilha já passou por algumas guerras, é verdade, mas está agora empenhada na paz sob o governo de um novo líder (eu) que instituiu novas politicas para proteger o lugar. Há leis muito mais rigorosas sobre quem pode entrar nesse porto. Ele não voltará a albergar pessoas com pensamentos maus e abusivos, navios de pensamentos com peste, navios de pensamentos escravos, navios de pensamentos em guerra.

Podemos vir a perceber que obsessões de longa data desapareceram finalmente ou que padrões desagradáveis acabaram por mudar. Pequenas irritações que outrora nos deixavam loucos já não são problema, ao passo que velhas angústias que em tempos se tinham tornado num hábito já não serão toleradas cinco minutos que seja. Os relacionamentos venenosos são postos de lado e pessoas mais luminosas e salutares começam a chegar ao nosso mundo.

Sinto-me tão livre aqui em Bali que é quase ridículo. Tenho tanta mobilidade quanto estas estradas me permitem, estreitas e sinuosas como são, mal mantidas e cheias de motas, camiões e autocarros turísticos.

Durante esta viagem vi o meu ego voltar da mesma forma como vemos uma fotografia Polaroid revelar-se, tornando-se mais nítida a cada instante que passa, primeiro um rosto, depois as rugas à volta da boca, as sobrancelhas, sim, agora está terminada: uma imagem do meu velho eu!

Sempre que saio do hotel, Mr Gous e os outros empregados que estão na recepção perguntam-me onde vou e sempre que regresso perguntam-me onde estive. Quase consigo imaginar que mantêm mapas minúsculos nas gavetas da secretaria sobre todos aqueles que amam com marcadores que indicam onde estão a cada momento, só para terem a certeza que está tudo controlado. De noite vou de mota até ao cimo dos montes e através de socalcos de arroz, com vistas lindas e verdes. Consigo ver as nuvens cor-de-rosa reflectidas nas águas dos arrozais, como se houvesse dois céus. Pelo caminho, passei por homens, mulheres, crianças, galinhas e cães, cada um à sua maneira, estavam ocupados a trabalhar, mas não tão ocupados que não pudessem parar para me cumprimentar. Não dá para acreditar na quantidade de beleza desnecessária que por aqui há. Posso apanhar papaias e bananas directamente das árvores. O universo sonoro também é espetacular, grilos e rãs numa orquestra ao vivo.

Mas tenho que conhecer outros sítios, e todos os meus amigos do hotel ajudaram-me a arrumar as coisas e despediram-se de mim emocionados.

Ali os policias usam mesmo flores atrás das orelhas, mas há corrupção por todo o lado em Bali, tal como no resto da indonésia. Os balineses vivem literalmente da sua imagem de serem o povo mais pacífico, devoto e artisticamente expressivo do mundo, mas não será tudo calculismo?

Para já, tudo o que posso dizer com certeza é que adorei as casas que alugei e que todas as pessoas em Bali, sem excepção, foram muito boas para mim. Mas seja lá o que for que os balineses precisam de fazer para manterem o seu equilíbrio isso é lá com eles. O que estava ali a fazer é a trabalhar no meu próprio equilíbrio e este continuava a parecer-me o clima propício para o fazer.

Os hindus veêm o universo em termos de karma, um processo que equivale a dizer que não acabamos em lado nenhum no final da nossas vidas, nem no céu nem no inferno, somos apenas reciclados e voltamos à Terra sob outra forma, de modo a resolver as relações ou erros deixados incompletos da última vez. Quando por fim atingimos a perfeição, saímos inteiramente do ciclo e derretemo-nos no vácuo. A única coisa que me atrai na filosofia do karma é que numa única vida é óbvia a frequência com que repetimos os mesmos erros, caímos nos mesmos velhos vícios gerando as mesmas consequências infelizes e tantas vezes catastróficas até conseguirmos finalmente parar e resolver a situação. Por isso dizem eles “tratem dos problemas agora, caso contrario vão ter de voltar a sofrer mais tarde quando estragarem tudo da próxima vez”.

Os homens, os turistas, com a sua beleza, são diabolicamente atraentes ou cruelmente bem parecidos ou surpreendentemente fisicamente divinais. Lembro-me que revi o meu registo romântico, e não me pareceu ser muito diferente (terei bom gosto talvez, ou talvez mais eles a mim) .. mas depois tem sido uma catástrofe atrás da outra. Quantos mais tipos de homens diferentes posso tentar amar e continuar a falhar? Penso nisto desta maneira, se uma pessoa tivesse dez acidentes de aviação uns atrás dos outros, não acabariam por lhe tirar a carta? Não iria quase querer que o fizessem? O que sei é que estou esgotada pelas sucessivas consequências de uma vida de escolhas precipitadas e paixões caóticas.

Não era o momento de procurar romance e de complicar ainda mais a minha vida já de si complicada, mas sim de procurar aquele tipo de serenidade e paz que só a solidão pode proporcionar. Conheci pessoa lindas de coração, pessoas que foram a Bali por diversas razões. Algumas de coração partido, outras para surfar e outras para conhecerem pessoas e por diversão. Quando me perguntaram o que fui lá fazer, respondia, vim encontrar-me em inúmeros aspectos. Bebíamos ora Bintang ora vinho, comíamos juntos e contávamos uns aos outros as histórias mais bonitas de que nos conseguíamos lembrar sobre os nossos antigos companheiros e amigos que ficaram no pais de origem, só para libertar a dor de toda aquela conversa sobre perda.

No outro dia, juntávamo-nos na praia a ver as perigosas ondas e os surfistas castanhos, brancos, indonésios e ocidentais a deslizarem na água como fechos de correr que se abrem nas costas do vestido azul do oceano. Vemo-los a desaparecer contra os corais e rochedos para os vermos depois ressurgir para apanharem outra onda. Grandes malucos! Ás vezes descobríamos calmas extensões de oceano azul e nadávamos todo o dia, dando-nos mutuamente permissão para começar a beber cerveja ou sumos naturais a toda a hora. A minha curiosidade é tão insinuante que quando dou por mim já fui convidada para ir viver durante um ano com a família do reparador de pranchas e de barcos.

O resto do tempo, limitava-me a estar sentada a vigiar. Vigiava os meus pensamentos, vigiava as minhas emoções, vigiava os pescadores. Levei algum tempo a mergulhar no verdadeiro silêncio do pôr do sol. Mesmo depois de ter parado de falar, descobri que era o melhor que podia fazer enquanto via o sol a desaparecer no fundo do horizonte. O melhor por do sol de sempre! Nesta viagem ..chorei muito. Rezei muito. Era difícil e aterrador, mas eu sabia isto: houve muitos momentos que nunca tinha querido estar e nunca desejaria ter ali alguém comigo. Sabia que precisava de fazer aquilo e que precisava de o fazer sozinha!

Nos últimos dias que por ali passei, o resort estava impregnado de um sentimento semelhante à da melancolia que se sente nos últimos dias de despedida. Segundo parecia, todas as manhãs havia mais algumas pessoas e bagagem a entrar no táxi para irem embora. Não havia pessoas a entrar de novo. Segundo Wayan (a dona do resort) estava a chegar o fim de Agosto, com ele o lugar ia acalmar durante uns tempos...

...e foi tudo ainda mais difícil, quando fui eu que tive de dizer adeus!!




domingo, 29 de agosto de 2010

a new feeling ...

only a surfer knows the feeling...


... e eu quero poder dizê-lo com toda a legitimidade do mundo. Quero ter o direito de o fazer. De coração. De sentimento e de verdade.

Porque esta é, sem dúvida, uma forma de estar na vida que me fascina e desconcentra. Que me faz sonhar por uma vida diferente... que me absorve os pensamentos e me faz desejar ter uma alma pura e um mundo azul...

Porque quero a forma despretensiosa e despreocupada com que encaram o dia-a-dia a percorrer-me as veias. Porque quero, por inteiro, o contacto com a Natureza, quero o Mar como amo e senhor, quero sentir o espírito livre e descontraído em todas as minhas entranhas...

Porque depois de ter passado por Bali, a minha vida nunca mais foi a mesma... porque me fez sentir prisioneira no meu próprio corpo quando tudo o que quero é libertar-me assim...

Porque me fez desejar ter o espírito surfista no corpo e na mente, de alma e coração... e porque me fez querer ter esse espírito instalado em todos os movimentos, em todos os impulsos e em todas as reacções.

como é que duas ilhas se tornam num arquipélogo?









quarta-feira, 25 de agosto de 2010

comer, orar e amar ...




um pouco sobre o livro que me acompanhou na viagem ... transformado em filme!

se o filme for tão bom como o livro, a Julia Roberts irá conseguir mostrar um pouco do que senti quando estive em Bali. As imagens estão lá, desde os arrozais, os elefantes, monkey forest ... e o sorriso daquele povo que mesmo tendo tão pouco são felizes!






grande Eddie Vedder a dar voz às emoções :)


terça-feira, 24 de agosto de 2010

trying to ...






Duas de muitas das musicas que me acompanham enquanto que acabo de escrever um texto sobre toda a minha viagem ... :)))) ...Brevemente, aqui no blog!!




sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Estou a amar Bali


O "hallo" sorridente das crianças nas montanhas de Ubud ainda não me sai da cabeça. A simpatia de toda a gente à minha volta é algo que me vai marcar para sempre, sem dúvida. Paisagens, arrozais, os chapéus cónicos. Cidade frenética e nunca silenciosa, mas de noite parece perdida.
Tudo tem sido tão espetacular que me parece quase inacreditável. As pessoas que tenho conhecido, os sitios por onde tenho passado, as imagens que ficam presas na retina, as emoções que tudo isto me desperta. Tem sido uma viagem de descoberta. De um país, das suas gentes, dos sítios extraordinários e até de mim ...




Ubud, Bali, Indonésia

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Estou muito feliz aqui ...

Tão boa....

A praia, a Bintang ao fim do dia, neste areal quase deserto. Encontro-me em silêncio, a admirar o sol poderoso que teima em esconder-se...



Praia de Padang Padang, Bali, Indonésia

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Primeiro impacto ao chegar ao Sul de Bali ..

Bali. Verde. Sol quente e areia fina. Uma máquina fotográfica. Eu. Sempre. A beleza das pequenas coisas conjugada com sentimentos puros. Desprendimento. Liberdade. Amor. Música no iPod. O sossego dos recantos perdidos e inacessíveis. Pássaros @7am. Lençóis acabados de lavar e passados a ferro. Almofadas baixas. Camas brancas. Quartos brancos. Sorrisos sinceros. Família [a nuclear, nada indiferente]. Viagens sem destino. Mochilas às costas. Pranchas de surf. Protectores com cheiro a praia. Passadeiras de madeira. Água salgada no corpo. Perfumes que marcam. Compromisso. Pessoas honestas e simples. Saudade dos nos marcam. Poucos. Fotografia. Preto e branco. Escrita. Um perfume novo. Correio acabadinho de chegar. Romãs. Pulseiras e colares originais. Anel de prata no polegar esquerdo. Roupa simples e confortável. Livros e cd's [genuínos]. Paredes pintadas de cores fortes. O cheiro do campo. Passeios à beira-mar. A lua reflectida no mar. Dançar e cantar à chuva. Roupa molhada colada ao corpo. Andar descalça. Conhecer pessoas novas. Yoga. Ubud. Arrozais. Vinho tinto. Vodka preta. Casar na praia a uma sexta-feira. Orquídeas brancas. Tulipas negras. Margaridas azuis. Unhas pintadas de rosa. Arroz branco. Mercados. Cores e sabores. Frutas e legumes. O cheiro da terra molhada. Filmes no avião. Mercado de artesanato local. Coisas novas. Strawberry juice. Biquinis coloridos. Finais de tarde na praia. Agenda Moleskine. Colisão. Tatuagem. Sonhos. Muitos. My Trip Story. Amo: uma história simples e uma vida tal e qual.

sábado, 14 de agosto de 2010



Já fiz uma viagem de longo curso que me trouxe até Denpasar e me deixou verdadeiramente deslumbrada com Bali; vi alguns filmes maravilhosos no avião (que pelas minhas contas conto uns seis), um ou outro de tal forma intensos que ainda não consegui parar de pensar nele (destaque particular para o One Hour Photo: Obcessão. Fotografia. Momento).

Senti o cansaço de horas infindáveis de voo ao ponto de achar que ia cair para o lado.

Mas hoje acordei e apercebi-me uma vez mais, que o cansaço de uma viagem como esta em nada se compara com o proveito que dela podemos retirar. Cheguei a Kuta ao final do dia, fui brindada com um calor e uma humidade insuportável. O normal nesta época do ano tomei um banho, tratei de alugar moto, andei pelas ruas quando conheci Wayan, um jovem balinense que se disponibilizou a mostrar de carro um pouco de tudo para eu poder circular melhor; jantei e dormi. Muito.

Logo de manhã fiz-me à estrada com Wayan, jovem de 21 anos que o sonho é jogar futebol tão bem quanto o Ronaldo (curioso como todas as pessoas que me perguntam de onde venho, identificam Portugal com o famoso jogador). Wayan, um gentleman, de bons princípios. Cada vez que eu tinha que sair do carro ele ia rapidamente abrir a porta, queria desde do inicio carregar a minha mochila, e quis tirar-me fotos, apesar de não saber como :)

Aproveitei para deixar o hotel onde me encontrava hospedada em busca de um que fosse mais real, que fosse mais tradicional, que fosse mais "eu". Saí de Kuta e fui descobrir um pouco do que é Bali central, visitei templos, o vulcão, mercados tradicionais, fabricantes de prata e fabricantes de artefactos em Madeira. Peças lindíssimas. Contornei o litoral até Tanah Lot. Simplesmente divinal.

Enquanto deslumbrava pelas ruas desconhecidas, sem rostos familiares, encontrei um hotel acolhedor com gente simpatica, como se quer.

Almocei tarde (manhã complicada :( ) num restaurante local e decidi explorar mais uma vez de moto todos os pequenos bairros. É um milage estar a escrever este post, confesso. Juro que não sei como sobrevivi a centenas e centenas de motos que vinham na minha direcção, ora da esquerda ora da direita e, normalmente ao mesmo tempo. Não sei como não fui albarroada por uma delas, juro.

Dia seguinte decidi visitar a terra perdida, Ubud. Trânsito caótico com paragem em Denpansar para regatear o preço de uma máquina fotográfica.

Incrível como não há mais acidentes neste país, buzinadelas e apitos pelas ruas típicas onde se vende de tudo. E quando digo tudo, é mesmo tudo o que possam imaginar.

As ruas são verdadeiramente nojentas mas as pessoas são doces e afáveis de sorriso envergonhado no olhar.

Adoro os bairros, as cores, mas detesto o cheiro de alguns sítios ( um misto de canela, incenso, comida e podre que paira no ar). Adoro os sorrisos e o som constante. Não há silencio aqui mas isso é bom.

Cheguei ao hotel e estou de rastos. Mas com um sorriso estampado na cara que dificilmente me deixará desacompanhada este Agosto.


... continuaçao ...

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

um pouco de mim

Vivo.
Tomo um copo de vinho sozinha só porque sim. Fico horas a escrever para um estranho e abro o coração. Ando depressa na estrada com a esperança de ultrapassar monstros antigos, vingo-me de quem me fez mal e divirto-me com isso. Escolho as minhas guerras e não desisto até ganhá-las. Beijo uma boca para esquecer o sabor de outra. Aumento o volume quando passam as músicas que me lembram dores passadas e obrigo-me a ouvi-las até ao fim. Devoro séries e filmes para esquecer a realidade por instantes. Leio e procuro encontrar-me na protagonista da história. Protejo quem amo e ataco quem me detesta. Desiludo-me com quem maltrata uma vitima e elogio quem respeita os oprimidos. Retiro o filtro das minhas palavras sem me preocupar com o que pode ferir. Derreto-me por quem me inspira. Enojo-me por quem me engana.

E não me arrependo de nada

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

fui ...





Vou só ali ao outro lado do Mundo e já venho!!





de volta: sublime wth Rome :))

Ora aqui está uma novidade :)))
saudadinha da boa!








quinta-feira, 5 de agosto de 2010

amo de verdade...






Não sei se já vos disse que…





Às vezes dou por mim a ter saudades de coisas que nunca vivi e a lembrar-me de pessoas que não conheci. A regressar de sítios distantes onde nunca antes estive, trazendo na memória as palavras doces e os sorrisos tristes das despedidas que não existiram...

Estranho, não é?

(o sonho é tramado :)) )


Por isso decidi perder a cabeça e ir no próximo dia 6 de Agosto (sim, eu sei, que é já amanhã) rumo a um dos destinos que mais queria conhecer: Bali, na Indonésia. Sem nada marcado, à excepção da viagem. A ver vamos no que vai dar..


1,2,3,4 :)






coração tricotado









*blog que costumo acompanhar



Expressividade ...





Em 2006, Gil do Carmo emprestou a sua voz firme e segura à música belíssima,“Sempre Para Sempre”, dos Donna Maria, o tema que dá nome ao primeiro álbum do grupo. As palavras, por ele declamadas, desempenham um precioso papel, conseguindo com a melodia que nelas subsiste, transportar cada um de nós para lugares longínquos… pois os tempo mudam e mesmo agora, falar de amor nunca foi e nunca será fácil. Os poetas deste mundo têm tentado fazê-lo ao longo dos séculos ...

As palavras não são estáticas e terá sido precisamente esse o pensamento que um grupo de alunos da Universidade de Lisboa espelhou, ao juntar à voz, imagens brilhantemente ajustadas, num trabalho de Comunicação Multimédia, que intitularam de “Expressividade”.


Na verdade:

“(…) O amor é tudo,
Tudo isto,
E nada disto
Para tanta gente.

É acabar de maneira igual,
E recomeçar.
Um amor diferente

Sempre, para sempre
Para Sempre.”
(Donna Maria)




quarta-feira, 4 de agosto de 2010

acordar para o lado errado

Todos temos dias menos bons, já se sabe. Será talvez melhor questionar se as nossas acções são realmente as mais acertadas, ou se preferimos acreditar que saímos da cama com o pé errado. É bem mais cómodo quando as culpas não caiem sobre nós. :)





Vencedor do prémio de curta-metragem “Wrong side of the bed” – 2006 One Minute Wonder Competition





A música não é nada de especial mas a sensualidade de Scarlett Johansson enquanto actriz perdura enquanto cantora ... :)





"When I met you
I didn’t know what to do
I was tired, I was hungry, I’d fight
Now I’m away
I write home every day
And I see you on the TV at night"

(Sem) ... Tempo para comunicar…

Eu sei que as pessoas têm no seu dia-a-dia cada vez menos tempo para comunicar, mas honestamente não consigo perceber porque facilmente reencaminham um e-mail, que outros lhe enviaram e que gostaram (ou não, já que às vezes parece que, para alguns, isso também não é importante) e noutras alturas não respondem simplesmente a um e-mail directo, ou uma mensagem pessoal. Haverá alguma explicação para isto, ou será tão somente um mal dos tempos modernos?



domingo, 1 de agosto de 2010


O dia acordou sonolento e estava rabugento.
Aquela praia ... Depois da selva, cabelos nas silvas e pés na lama do ribeiro, ela aparece, linda de morrer, de paisagem dramática e personalidade fatalista, como a Amália ... por mais que eu "a tente conhecer" continua cheia de mistério ...
Hoje reencontrei-a como o primeiro dia, um nevoeiro forte e intenso. Enquanto apreciava a paisagem, recordei bons momentos; momentos únicos de gargalhadas profundas, sorrisos entre amigos, sacos de cama enrolados, fogo e petisco, cantoria "à fadista" acompanhados com viola e letras improvisadas.
Assim que cheguei a casa, fui a correr ao baú das recordações e consegui encontrar um texto que foi escrito neste local e num dia assim (datado de 2004) ...



"Lembro-me de como te conheci.
O mundo escorregava-te por debaixo dos pés, como um tapete mágico a sobrevoar os meus sonhos.
Lembro-me de te ter sonhado, tão à semelhança do meu mundo. O mesmo olhar, toda a expressão condensada. Sorrias, sem entender porque me sorrias. Um sorriso intenso, sentia-o a beijar-me e a resgatar-me do esquecimento em ti. Será que também tu já me sonharas antes? Ne que por um instante. Acreditei, levemente que me reconhecias do teu mundo e por isso me sorrias com tanta alma.
Lembro-me de te ter conhecido. Lembro-me de te ter gravado na minha memória.
Um segundo bastou, para (re)encontrar o meu olhar, no teu olhar. A minha alma, na tua alma.
Os teus lábios a recriarem um esboço do sorriso. O sorriso que me abraça por segundos, o sorriso que me devolve uns instantes para que saiba que te sinto medo. Medo de te procurar e encontrar em ti um estranho que habita em mim."


deveria estar apaixonada ...