Vir parar à cidade ou, se preferirem, onde o vento dá a curva mas ninguém sabe como ... é um daqueles momentos da vida que não se esquece. Há um centro que nos deixa a dois minutos de tudo, de todos os lugares que interessam e todos os pontos de passagem. São dois minutos para todo lado, menos para casa. a casa não se vai, tira-se férias de tudo o que é real, de tudo o que é nosso, material ou paisagístico, e vive-se numa cama emprestada. A única coisa que aqui está bem pendurada é a dimensão certa, a dimensão que acontece a trezentos quilómetros daqui.
Aqui, eu continuo a ser eu mesma, assim como em qualquer outro lugar. Nunca há desprendimento às raízes nem ao carácter, para o bem e para o mal. Há pontos de euforia que antecedem momentos de desilusão. Há histórias imprevistas, laços confusos e relações surrealistas. E estas, sejam as histórias, os laços ou as relações, não são a minha vida. São uma outra, paralela.
Fico triste por pensar que, assim como todos os outros momentos do género, este vai ser esquecido, que o aqui que se vive vai sobreviver na memória de (apenas) alguns, poucos, mas que não será suficiente para muito mais, possivelmente, por falta de vontade. Quando um não quer, dois não fazem .. quando três querem, tudo acontece - aqui está uma verdade absoluta que Lisboa me apresentou.
Tudo passa, são como os hematomas, já dizia o outro. E o outro foi exactamente como os hematomas: inchou, desinchou e passou (ou quase) .. dói um bocadinho pensar que amanhã é como se ontem não tivesse acontecido.
Sou incapaz de abandonar a sinceridade e a transparência. Chamem-me corajosa, independente, o que for. Há que ter tomates para ouvir coisas, as verdades. E às vezes é difícil, porque não é de todo conveniente, tomar as verdades por mentira, mesmo quando na verdade o são.
Conhecem-se pessoas que se supõe para sempre, amigas que desiludem, pessoas que não correspondem, vidas que não combinam e carácteres opostos. Há entregas momentâneas e perdidas, mesmo que saborosas, há sentimentos que nascem e se têm de matar a sangue frio, como que torcendo o pescoço olhos-nos-olhos, mesmo que completamente embriagados de uma bebida qualquer.
Continuo a desconhecer se no álcool, mais que no amor ou na doença, se dizem as verdades, se apela ao sentimento ou se se manipula, da mesma forma que sóbrio, tudo o que se atira da boca para fora. Desconheço, intrigo-me e sobrevivo com aquele pesar de quem ainda só sobreviveu vinte e oito anos e está cansada de saber que tudo passa, de sobreviver a todos os momentos, os mais felizes e os mais infelizes.
Dói viver na angústia à espera de saber a verdade que poderá determinar o futuro da minha vida e olhar para o mundo desta forma... mas eu sobrevivo, infelizmente.
dói.
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