Na minha infância tinha um sono de pedra, um sono capaz de meter muita inveja pois, mesmo que me acordassem de manhã, dizia aos meus pais, "Vá lá só mais cinco minutos". Primeiro nunca gostei de acordar de repente e levantar-me que nem um soldado em plena guerra, gosto de o fazer aos poucos, a não ser que esteja realmente atrasada. Depois, quando pedia aqueles cinco minutos, com a voz mais arrastada do mundo, bastava um "Mas são só mesmo cinco minutos, já te venho chamar" para adomecer numa questão de segundos e dormir literalmente aqueles cinco minutos. Ainda hoje a minha mãe, quando estes episódios vêm à baila, fica com uma cara de surpreendida, pois eu ferrava-lhe bem na almofada.
A realidade de hoje é para mim um pouco desconfortável, visto que a pedrada valente de outros tempos foi sendo substituída por uma sono dos mais leves. Para terem noção do ponto da situação, demoro cerca de vinte minutos a adormecer e acordo com qualquer barulhinho. Ouvidos de tísica? Talvez. Do portão da garagem a fechar, das crianças a brincar no páteo, do vizinho a fechar ou a abrir a persiana, ou até mesmo da vibração do elevador a parar no meu andar, vale para me despertar. Sono reconfortante não tenho aos anos, mas habituei-me à situação. Faço uma coisa que me ajuda a adormecer que é observar o meu cãozinho. É como se tivesse uma presença e me sentisse mais segura.
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