Faz um ano.
Aqueles segundos que me gelaram o sangue podiam ter sido por causa do gel frio que se espalhava pelo útero enquanto o ecrã preto me mostrava o âmago. Podia ter sido só disso. Mas não. Foram aquelas palavras, ditas de forma tranquila, suave.
"Tem aqui um nódulo. Ainda não se sabe a sua natureza. Temos que fazer testes ... asap".
Foi isso que me gelou o sangue.
E depois estava tudo um bocadinho turvo, os olhos a molhar, o telefone à procura do número do costume. "não se vai saber o resultado. Tenho que fazer exames". E a voz da minha mãe, "vais ver que está tudo bem".
Depois os amigos. Três amigos com quem falei, "olha, tenho qualquer coisa no útero..." e a conversa a terminar sempre "estou contigo, vou contigo onde for preciso", "vamos ver isso com calma", "vais ver que está tudo bem".
Passado um ano tudo parece que acalmou. Só lá para mais de um ano caí em mim e disse em voz alta "assustei-me, foi isso. assustei-me muito". Sem lágrimas, sem pesadelos, só assim, estava em segurança e saiu-me finalmente de dentro de mim.
Foi provavelmente o maior susto da minha vida.
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