sábado, 28 de janeiro de 2012

Ser solteira aos 30-a-atirar-para-os-31 anos

As pessoas têm histórias. Bagagem, cicatrizes, tralhas no sótão. Gostam de alguém mas se calhar maldizem por dentro o momento em que não lutaram por outra pessoa. Sonham com grandes conquistas e grandes vitórias pessoais mas se calhar já não se importavam de ser só o tipo que não segura a espada mas leva a bandeira e consegue chegar ao fim da batalha com as duas mãos inteiras e alguns farrapos. Porque cada dia em que se sai à rua é um dia em que se veste um alvo, e baixar a guarda é quase sempre acabar no chão, partir uns dentes, partir uns ossos ou algo que não se vê e é pior ainda. E isto sempre foi algo que me fascinou: a forma como uma pessoa colecciona histórias e desilusões e muda um bocadinho por causa disso, mesmo sem querer. Não falo só de desilusões amorosas, embora ultimamente tenha pensado bastante nisso. Porque ultimamente só tenho tido relações – com altos e baixos – e vejo agora que já não sou a mesma pessoa de quando tinha os meus 25. Não por não ter a mesma fé, que hei-de ser uma romântica estúpida por mais que me apaixone pelos homens errados e hei-de continuar a ser contra a ideia de fazer uns pagarem pelos erros de outros, mas porque não tenho a mesma ingenuidade. Porque aprendi coisas, porque percebi o que não queria, porque me sinto na obrigação de conseguir algo de muito bom a partir de agora, já que para mau bem me podia contentar com o que já tinha. Mas a grande questão, sei-o agora, é que quanto mais se cresce menos parece possível. Encontrar alguém com as mesmas vontades. Com a capacidade de ter um passado, uma história, várias histórias, mas não ser um traumatizado a caminho dos cuidados intensivos ao mínimo ai. Ou simplesmente alguém livre e com espaço suficiente para viver uma série de primeiras coisas connosco. Porque como se tudo isto não bastasse, ser solteira aos 30-a-atirar-para-os 31 não é só ter de lidar com mais pesos mentais e nódoas negras amorosas. É saber que vai ser sempre pior a partir de agora. E é sobretudo poder conhecer alguém que parece ter tudo a ver connosco, e ainda estar a pensar para dentro “será queee…..” e a dar pulinhos psicológicos de emoção, quando esse alguém tira uma chucha do bolso e fala no filho bebé que tem em casa. Ou da noiva que está mesmo a chegar. Ou da casa que divide com a namorada. Nestes momentos – isto aconteceu-me mesmo, um dia ainda vou perceber que há alguém a comandar isto tudo e que esse alguém resolveu distrair-se do tédio da omnipotência fazendo da minha vida afectiva uma comédia – nestes momentos percebo que já estou mais a andar para os trinta e muitos do que para outro lado qualquer. Que isto - casamentos, filhos, casas -, já é o que devo esperar. E palavra de honra que não sei muito bem como, nem quando, é que isto me aconteceu.

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