terça-feira, 26 de junho de 2012

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Bom dia Verão!


a dream for next year




Deambulando por entre as minhas teorias sobre o amor uma das conclusões que tenho tirado é que há mais três ingredientes fundamentais na misteriosa equação do amor e da vida a dois. Tempo, paciência e coragem. Tempo e paciência são precisos para construir o amor que não nasce feito. O amor que existe para lá do ritmo dos impulsos biológicos. Por isso quando dizem "Ai, já não é o que era", a única coisa que eu sei é que certamente não é, porque é muito mais, para o bem ou para o mal, as coisas evoluem, crescem, mudam... Ninguém conhece outro alguém num mês. Ninguém se molda de uma forma que parte de si parece estar alojada noutro alguém em meio ano. E tudo isto são contas relativas... O que eu sei é que é preciso muita convivência - com todas as ilusões e desilusões - para que as pessoas sejam cada vez mais uma com a outra no dia a dia, em sonhos e projectos, em pequenas decisões (ir ao cinema ou ao teatro?). Essa é que é essa. Eu cá sei que estou numa fase da minha vida particularmente instável - às vezes tenho pouco tempo e paciência. Às vezes dou por mim a querer amor ao estilo fast food: um amor já feito, sem decisões, sem discussões, sem complicações, sem obstáculos. Um amor que me dissesse num inglês trágico e fatalista, there you have it. Como quem diz, o que sempre sonhaste é possível. Ou, there you have it, é possível ultrapassar o que já tiveste! Quase como se só o que for melhor, assim logo à partida, valesse a pena e fosse a confirmação de que o amor existe. E o pior é que avalio este melhor nos termos de uma matemática ilógica que nunca há-de dar conta certa: quase como se achasse que serão precisos os 7 anos que já tive para chegar onde estava. É preciso tempo para deixar de encarar o amor como uma competição. É preciso tempo para deixar de querer prestar contas com o passado e enfrentar um amor a limpo, como deve ser. E isto tudo lembra-me que é preciso também um bocadinho de coragem para amar depois do amor. Para achar que aquele que considerávamos o amor de uma vida era só um amor na vida. É preciso coragem para assumir que mesmo que a morte faça eventualmente parte do trajecto de um caminho que se via eterno, continua a valer a pena enfrentar o risco de morrer todos os dias, de perder parte de nós no outro, de dar corpo e alma e sabe-se lá mais o quê, mesmo que um dia esse corpo e alma fiquem desalojados. Afinal, não é por saber que um dia também eu irei acabar, que não me apetece viver. É preciso coragem para dizer ao coração que ele não falhou e que não foi abandonado... É preciso coragem para dizer ao coração que não faz mal tentar mais que uma vez e que não, para saber que está certo, também não tem de vir tudo de uma vez.

regresso.


hoje corri cerca de doze kms. não é nada de extraordinário e eu só reparei nisso quando na minha corrida habitual cheguei ao fim da estrada e ao rio onde ela termina sem aviso, mas naturalmente.
há coisas feitas para terminarem assim. um pouco de cada vez. muitas vezes sem que o início do fim se faça notar a cada passada nossa.
parei junto ao rio apenas uns minutos apesar do caminho de volta ser o mais difícil. e qualquer coisa não voltou comigo. é sobretudo por isto que gosto de correr. não há melhor catarse.
.
a verdade é que estou cansada de lutos. metafóricos e reais. mas também de cuidados paliativos. de prolongamentos artificiais da vida que não passam disso. prolongamentos artificiais.
fui correr e qualquer coisa não voltou comigo.
amanhã faço as malas para mais um dia fora de casa em trabalho e preparo-me para as horas ao volante. as estradas têm qualquer coisa de especial para mim.
eu não voltarei igual. 
.
há uns dias atrás reparei numa mulher no autocarro para sonhos. talvez na rua não reparasse nela. mas dentro do autocarro para sonhos sobressaiu a tristeza que carregava no rosto e nos ombros.
na altura pensei que nenhum passageiro com aquele destino deveria encostar-se assim ao vidro com os olhos feitos de dor e desapontamento. talvez agora entenda o que ela já entendia nesse dia.
as estradas transformam-nos. um dia vamos no autocarro para sonhos. noutro dia, o autocarro para sonhos onde vão outros atropela-nos. há quem não repare. há quem procure não reparar. há quem se encoste ao vidro no resto da viagem. e há quem saia na paragem seguinte.
.
nós saímos aqui. é a nossa paragem.
voltamos? não sabemos.
vamos voltar a dançar (temos tantas saudades!). vamos ler mais. vamos fazer as pazes com os livros. voltar ao desporto. voltar a escrever a sério. vamos à nossa procura. vamos correr mil vezes doze kms. sempre em cima da estrada.
.
quem me acompanha desde sempre, talvez se lembre de como era antes. these boots are made for walking.
a despedida nunca chegou a perder o sentido.