quinta-feira, 21 de junho de 2012

regresso.


hoje corri cerca de doze kms. não é nada de extraordinário e eu só reparei nisso quando na minha corrida habitual cheguei ao fim da estrada e ao rio onde ela termina sem aviso, mas naturalmente.
há coisas feitas para terminarem assim. um pouco de cada vez. muitas vezes sem que o início do fim se faça notar a cada passada nossa.
parei junto ao rio apenas uns minutos apesar do caminho de volta ser o mais difícil. e qualquer coisa não voltou comigo. é sobretudo por isto que gosto de correr. não há melhor catarse.
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a verdade é que estou cansada de lutos. metafóricos e reais. mas também de cuidados paliativos. de prolongamentos artificiais da vida que não passam disso. prolongamentos artificiais.
fui correr e qualquer coisa não voltou comigo.
amanhã faço as malas para mais um dia fora de casa em trabalho e preparo-me para as horas ao volante. as estradas têm qualquer coisa de especial para mim.
eu não voltarei igual. 
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há uns dias atrás reparei numa mulher no autocarro para sonhos. talvez na rua não reparasse nela. mas dentro do autocarro para sonhos sobressaiu a tristeza que carregava no rosto e nos ombros.
na altura pensei que nenhum passageiro com aquele destino deveria encostar-se assim ao vidro com os olhos feitos de dor e desapontamento. talvez agora entenda o que ela já entendia nesse dia.
as estradas transformam-nos. um dia vamos no autocarro para sonhos. noutro dia, o autocarro para sonhos onde vão outros atropela-nos. há quem não repare. há quem procure não reparar. há quem se encoste ao vidro no resto da viagem. e há quem saia na paragem seguinte.
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nós saímos aqui. é a nossa paragem.
voltamos? não sabemos.
vamos voltar a dançar (temos tantas saudades!). vamos ler mais. vamos fazer as pazes com os livros. voltar ao desporto. voltar a escrever a sério. vamos à nossa procura. vamos correr mil vezes doze kms. sempre em cima da estrada.
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quem me acompanha desde sempre, talvez se lembre de como era antes. these boots are made for walking.
a despedida nunca chegou a perder o sentido.



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