sexta-feira, 23 de julho de 2010

if ...

Mais uma ida ao hospital logo pela manhã. Mais uma injecção ... o meu corpo está a mudar, sinto que o meu metabolismo não está a responder como devia. Durante o dia de hoje vão voltar os enjoos, as idas ao wc repentinas, comprimidos, febre ... aplica-se mesmo a expressão "que atraso de vida!".

Porquê lutar contra o que talvez esteja mesmo determinado, o destino é mesmo esse! Será que vale a pena lutar pela sobrevivência? Hoje acordei a pensar que o melhor talvez fosse mesmo ficar por aqui... Diminuiria o meu sofrimento, diminuiria o sofrimento de muita gente ...

No hospital concentro-me sempre nos passos. As enfermeiras, os auxiliares, os doentes, as estruturas das cadeiras de rodas. Sempre senti os hospitais como insuportáveis pela dose de olhares que encerram dentro de portas. Prefiro concentrar-me nos sapatos dos médicos que se apressam pelo corredor do que levantar o rosto e receber em cheio um olhar dorido. Claro que há histórias felizes nos hospitais, eu é que simplesmente saio de lá derrotada, numa mistura entre medo, pena, e inveja. Há pessoas que certamente têm problemas mais complicados do que o meu e mesmo assim andam pelos corredores entrecruzados do edifício orgulhosamente visando quem se lhes atravessa no caminho.

Há dias enquanto estava à espera neste mesmo local, uma pessoa que me dizia que aquilo que fez e que poderia ter sido considerado um acto de coragem era, para ele, simplesmente o instinto humano de sobrevivência, de lutar, de virar a página e seguir em frente.

Sempre que espero a minha vez no hospital, aquelas palavras surgem em pensamento vezes sem conta.. não sei se serei capaz ...

Sempre admirei as pessoas que trabalham em hospitais pela força que deve ser necessária para lidar com todas as histórias que ali começam ou acabam. gostava de ter deixado todas as minhas inseguranças naquele chão axadrezado.

Talvez para a próxima já consiga...


2 comentários:

  1. Uma amiga minha aqui de Faro, analista clinica, contou-me uma história que guardo para sempre cmg.
    Ela estava a tirar sangue a uma paciente, já de meia idade, e naqueles instantes em que estavam juntas, naquela conversa de treta, ela perguntou a razão de estarem a fazer análises, se era doença, se era rotina, etc... a resposta foi esmagadora: SIDA.
    Ela perguntou se sabia como tinha apanhado... a resposta foi ainda mais esmagadora "Foi o meu marido que me transmitiu. Ele andava nas "putas".
    Acabaram a conversa as duas abraçadas a chorar.

    Life Sucks :/

    Nunca podemos saber bem com o que podemos contar. Ou com quem.

    Carpe Diem

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