Todos temos em algum momento um coração partido. Rasgaram-nos a pele sem a mínima contenção pelos estragos que pudessem ser causados. Foderam-nos a razão, a emoção e tudo o que de mais veio à mão. Sem dó nem piedade, deixaram-nos na merda. Somos infelizes naqueles momentos que se seguem. Incapazes de sorrir ou tolerar a companhia seja de quem for. Só nos suportamos a nós, e mesmo assim a custo. Vemos o nosso reflexo no espelho e o que este nos retribui é uma figura pálida, triste e nua que nos olha com aqueles olhos que já nada sentem.
Como é possível que alguém nos mate e mesmo assim nos deixe com vida, com o único propósito de assistirmos a esta merda de existência? Começamos a questionar o que é o amor, o que é a paixão, começamos a racionalizar o porquê, o quando e o como. Não vale a pena, é o que é, foi o que foi. E o que resulta é isto. O nosso reflexo no espelho. Uma figura escanzelada, desprovida de compaixão própria. Mera existência que agora somos.
Achamos que nunca vai acabar. Somos a personificação do sofrimento. Até a um dia. Um dia olhamos para o espelho e vemos um sorriso. Questionamos, o que raio está aquilo ali a fazer. Intrigados sorrimos de novo só para o ver. É genuíno. Temos prazer no sorriso. No dia seguinte descobrimos a razão. Estamos livres. Somos nós novamente. Não há mais dor. Acabou. Não morremos.
Até ao dia. Em que nos tocam e ficamos a olhar para aquela pele que toca na nossa e nos sentimos a sorrir novamente. Merda, e agora? Vamos passar por tudo novamente? Mas agora é diferente, não sentimos dor, mas um sufoco. Questionamos e agimos como parvos que perderam o jeito para andar. Tropeçamos em nós próprios e tentámos a custo aguentarmo-nos. Onde havia dor há agora parvoíce. Mas sentimo-nos vivos. O nosso reflexo ganha cor, ganha existência, sorri-nos de volta.
zud gosta disto
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