sexta-feira, 22 de abril de 2011

Alexey Kartashov


Às vezes apetecia-me que a vida fosse simples.
Só isso - simples.
Nem boa nem má, nem curta nem comprida. Simples.
Cheia daquela simplicidade que me permitiria fazer coisas como vestir as minhas calças de ganga mais confortáveis, enfiar pela cabeça um top simples, calçar os All Star mais rasgados que tivesse debaixo da cama, pegar nas chaves do carro e ir com pessoas igualmente confortáveis e simples para uma esplanada apanhar sol.
Apetecia-me que a vida fosse simples e me permitisse fazer coisas como andar por cima dos caminhos de ferro (sempre quis fazer isso, como se vê nos filmes), descobrir sítios novos e criar recordações neles. Apetecia-me que a vida fosse simples para fazer estas coisas quando quisesse, quando me apetecesse, com quem eu quisesse, só porque sim. E que os risos não tivessem mágoas por trás, e que os peitos não fossem cheios de saudades, que os corações não tivessem cicatrizes e que as mãos dadas fossem tão fluídas como as conversas deveriam ser.
Mas a vida não é assim tão simples. Porque há mágoas, porque há saudades, porque há cicatrizes que não desapareceriam nem com a melhor cirurgia estética, porque até as mãos dadas são complicadas. A vida não é simples, nem que seja porque temos de trabalhar se queremos ter dinheiro para ter um carro, para ter gasolina para o carro, para consumirmos na esplanada senão nem podemos estar lá - a vida devia ser tão simples que houvessem esplanadas em que podíamos apenas estar sentados a apanhar sol, sem termos de pedir uma Frize para não parecer mal. E é por isto, e só por isto, que eu tenho saudades de ser criança. Porque nessa altura a vida era tão simples como isto - trocando a volta de carro e a esplanada por uma ida ao parque infantil, é claro. E também é muito por isto que, de vez em quando (muitas vezes, vá), eu tenho vontade de arrumar meia dúzia de coisas numa mochilinha, dizer "então até um dia destes, quando me cansar ou quando se me acabarem os tostões eu volto" e ir à procura dessa simplicidade em qualquer outro sítio do Mundo. Mas lá está, a vida não é assim tão simples que nos permita gastar tudo o que temos na conta poupança e nem pensarmos como vai ser o nosso futuro no qual não teremos ninguém a zelar por nós nem a pagar-nos as contas, nem tão simples que podemos estar-nos nas tintas para o facto de irmos perder um trabalho de que até gostamos - e não, trabalhos não há muitos, este demorou uma eternidade a aparecer e na minha área é só quase impossível encontrar trabalho. E pronto, era só isto que eu queria dizer. Agora por favor, por favor, digam-me que não sou a única com estas crises existenciais.

1 comentário:

  1. creio que grande percentagem gostava que a vida fosse simples. Ou então não.
    Também gostava disso... mas a simplicidade é [ou torna-se] algo complexa.
    Por vezes, ao encontrar o prazer na simplicidade das pequenas e disponíveis coisas, penso que a complexidade reside só e apenas dentro de mim. Que as coisas são realmente simples...
    As coisas já foram realmente simples.
    Talvez seja só preciso mudar o referencial.

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